sexta-feira, 24 de março de 2017

Vaza Jato - Fachin retarda fim do sigilo. Só “pode” vazamento do Marcelo “mendigo”



O ministro Luiz Edson Fachin disse hoje, no Rio, ao participar de uma banca para escolha de professores titulares do departamento de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que “não tem previsão” para decidir sobre o levantamento do sigilo dos pedidos de inquérito derivados das delações premiadas dos executivos da Odebrecht.
Com todo o respeito, a fala do ministro chega a ser ridícula, no momento em que vaza tudo para os jornais e vazará mais ainda para as revistas de final de semana. E, claro, vaza o que se quer que vaze não o que pode causar “danos colaterais” aos promotores da “vazação” e a seus prediletos.
Enquanto isso, vamos nos divertindo com a mistura de empáfia e surrealismo dos trechos divulgados do senhor Marcelo Odebrecht.
No Estadão:
“A campanha presidencial [de Dilma] de 2014, ela foi inventada primeiro por mim, tá?”, disse Marcelo ao ser questionado sobre sua relação com a reeleição de Dilma. “Os valores (de doações) foram definidos por mim”, afirmou o empresário, preso em Curitiba desde junho de 2015, em razão de investigações da Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção na Petrobrás.
Quer dizer, não lhe foi pedido dinheiro, ele resolveu dar? Se resolveu dar, então não lhe foi proposto algo em troca?
Ele diz que, do total, R$ 50 milhões referiam-se, porém, a uma contrapartida pela aprovação de uma medida provisória em 2009. Logo depois houve uma campanha eleitoral, não seria este o momento, então, de “pagar” o favor? Você consegue imaginar uma “propina” sendo paga 5 anos depois?
Francamente, difícil acreditar nessa “caderneta de roubança”. R$ 50 milhões assim, no fio do bigode, parados cinco anos numa promessa, sem juros nem correção monetária? Corrigido pelos juros da Selic, de junho de 2009 a junho de 2014, daria R$ 28,7 milhões de rendimento…
Aí, na Folha, diz que era “mendigo”, que “não era o dono do governo”, mas o “bobo da corte do governo”, quase ao ponto de nos comover a juntar umas moedinhas para ele tomar uma média com pão e manteiga…
Pera lá, a Odebrecht é uma empresa de benemerência. Se  “empepinou” -palavras dele -, se endividou, deu garantias, gastou do seu e tinha de “mendigar” e aí resolver dar milhões de reais pelo caixa dois aos seus algozes, sem condicionar isso ao recebimento do que lhe deviam?
Eu deveria ter conhecido este senhor, para ver se meus problemas financeiros terminavam, assim, com tanta generosidade. Não dou nada, ele se endivida por mim e depois ainda me presenteia?
É óbvio  que houve, “por dentro e por fora” dinheiro da Odebrecht na eleição. Dela e de outras empreiteiras . Para o PT e para todos – ou quase todos – os outros partidos. Mas a história que Marcelo Odebrecht arranjou para dar fim a ameaça de “prisão perpétua” que Curitiba lhe punha à frente está cheia de situações, no mínimo, com pouca verosimilhança – como a de conversou com Michel Temer “sem valores” – o que seu braço direito desmente – e que um auxiliar e Eliseu Padilha combinaram na varanda do Palácio do Jaburu…
Mas com Dilma, mesmo não tendo nenhuma conversa além de “doação quem trata é fulano”, sem ter tratado de valores,  afirma que ela sabia. Para ela saber, alguém ter de ter contado, e ele não diz que  contou nem quanto nem como estava doando.
Os outros delatores da Odebrecht tem sido muito mais específicos que Marcelo, embora aquilo que disseram tenha sido empresarialmente organizado, com uma legião de advogados a combinar e acertar versões.
Foi, claro, um negócio, onde Marcelo, a jóia da coroa,  tinha de entregar o que queriam.
Mas precisa embrulhar melhor o presente…
(Por Fernando Brito in Tijolaço)

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